Enquanto navegava pelo You Tube descubro um vídeo sobre Ansiedade. ... Ansiedade, eu lá tenho essas coisas... Pensei eu,
Errada. Completamente errada... Afinal sim, eu tenho ansiedade, apesar de este último ano ter conseguido equilibrar bastante a coisa.
E como assim tenho ansiedade?
Em mim, tudo o que fuja a uma rotina é sinónimo de um nervoso miudinho... o passar noites sem dormir. Sentir o coração a disparar, a barriga e tremer e uma sensação parecida à de "devo estar a sonhar".
E percebi cedo que estes sentimentos não eram normais. Em pequena, andava na escola primária e toda a minha turma foi à Madeira. Eu não fui. E não por questões monetárias, ou familiares... Não fui porque não quiz. Porque assim que ouvi a minha professora dizer que íamos à Madeira desatei num pranto e rezei a todos os anjinhos para não ir na viagem. Medo de andar de avião? o estar longe? Não sei... toda a ideia de viajar com os meus colegas durante 1 semana me fez imensa confusão. Percebo hoje que é normal ter medo... Mas não é normal deixarmo-nos ser dominados pelo medo.
Não fui à tal viagem. Não senti até hoje nenhum remorso nisso. O facto de saber que não iria foi na altura um alívio... saiu-me um peso de cima. Fui gozada pela turma... fui gozada pela própria professora (é triste mas é verdade). Chorei muito... (na altura chorava por tudo e por nada, e este era mais um motivo). Mas passou!
A escola continuou... Novos professores, novos alunos. Visitas de estudo... sempre um drama. Não sei como mas uma visita de estudo era um drama para mim, sempre foi. Se o programa fosse vir a Lisboa e voltar numa manhã, até aceitava (morava às portas de Lisboa). Se o programa fosse ter uma viagem de 100km a resposta era automática "Não vou".
Lembro-me no 9º ano quando todas as turmas fazem programas para viagens de finalistas eu pensar... "por favor não se lembrem de inventar uma viagem". Felizmente nesse ano a minha turma que era pouco unica não se lembrou dessa, e foi menos uma desculpa que tive que inventar na vida.
Secundário o caso mudou de figura... Não sei o que aconteceu. Sei que mudei de escola e de turma. TODA a minha turma era diferente, não conhecia absolutamente ninguém!
Chorei semanas a fio porque me sentia perdida... Em casa diziam-me que a vida era sim, e que ia ter que aprender a lidar com muitas pessoas diferentes ao longo da minha vida.
Alguns meses se passaram e no final do 11º ano a minha turma percebeu que muitos iriam ficar pelo caminho naquele ano... e decidiram assim fazer uma "viagem de finalistas" antecipada. Não fui... para variar. Mas... pela primeira vez arrependi-me! Ouvi no ano seguinte as histórias, as partidas, as bebedeiras e tanta coisa mais... Eu... perdi tudo.... Eu não vi nem vivi nada...
12º ano e novamente nova viagem marcada... Empolgada decidi que iria! era o meu último ano naquela que foi a melhor turma que alguma vez tive. Desta vez não tive autorização lá de casa... Não fui mais uma vez, mas contra vontade.
Faculdade, trabalho... amigos... Aprendi a não ir, não arriscar, não viajar. Sempre que havia um jantar, uma viagem, um programa fora da rotina sentia o corpo tremer... uma vontade de me enfiar num buraco grande e dizer... "Nãoooo!" Quanto mais evitava aceitar convites que fugissem da rotina, mais me sentia em pânico quando algo "ameaçava" quebrar essa rotina.
Até que chegámos a 2014: Casei. Acreditei que esse meu lado estranho de ter medo do desconhecido tivesse passado. Sentia-me confiante, sem medos. Arriscava, saída da rotina.
Em 2017 fui mãe. E em 2018 fiquei desempregada. Arranjei emprego pouco tempo depois e chorei... chorei durante semanas por sentir que não pertencia ali (onde é que eu já vi isto)... Procurei, procurei outra coisa e encontrei uma saída 3 meses depois.
Emprego novo, mais perto de casa, a fazer algo mais interessante para mim.... mas.... horei durante semanas por sentir que não pertencia ali (outra vez). Desta vez o marido a dar-me conselhos... Que tudo o que eu sentia era normal por estar a adaptar-me, mas que tinha que ser mais positiva.. ou ia dar cabo de mim... Demorou... muito.... Em Dezembro descubro que existe Jantar de Natal da Empresa (um drama para mim... que sempre que podia evitava ir)... Disse ao marido "eu não vou. não podem obrigar-me"... mas... ele "obrigou".... e fez bem... Fui ao jantar, a 100km de distância e dormi fora. Os dias anteriores foram um verdadeiro martírio psicológico... "E se acontece alguma coisa? E se a minha filha chama por mim durante a noite? E se... E se...? E se...?"... Fui... jantar... e dancei até às 4.30 da manhã pela primeira vez em 33 anos de vida. No dia seguinte o mundo continuava igual! Nada mudara. E assim percebi... Que eu posso quebrar a rotina... mas a rotina continua lá, se eu quizer... (Podemos não querer... podemos mudar de rotina... podemos não mudar... a escolha é nossa!)